O drama da fome e falta de água em Angola está na origem da má nutrição que afeta milhares de pessoas, enquanto 1,58 milhão enfrentaram insegurança alimentar aguda no ano passado.
Os relatos de fome se sucedem e as políticas do Governo não têm resultados visíveis.
O Relatório Global sobre Crise Alimentar (GRFC) de 2023, do Programa Alimentar Mundial (PAM), diz que 258 milhões de pessoas em 58 países do mundo, incluindo Angola, sofreram com insegurança alimentar aguda no ano passado, um aumento de 25 por cento em relação ao ano transato.
Entre as razões dessa crise destacam-se os conflitos, choques económicos e condições climáticas extremas.
Angola aparece pela quarta vez consecutiva no grupo, que, segundo o documento, sofre principalmente com mudanças climáticas, mas tanto ativistas sociais como vários especialistas têm alertado, nos últimos anos, para a necessidade de programas concretos.
Rafael Morais, coordenador da associação cívica SOS Habitat, que elogia determinados projetos do Executivo para o combate à fome, apela, no entanto, a uma maior fiscalização das autoridades na implementação dos mesmos.
“Por que é que a fome continua se existem estas políticas feitas no papel? Ali, a questão que se coloca, então, tem que haver uma grande fiscalização para saber se o que está no papel está a ser cumprido”, afirma Morais, lamentando a situação de muitas famílias.
Francisco José, pai de três filhos, diz que há mais de um ano que para se alimentar recorre aos contentores de lixo no Kilamba.
“Estou a passar mal com a fome, da forma como o pai está a ver, estou a vir a chiar neste contentor para conseguir alguma coisa para comer se não conseguir não como”, conta.
Fernando Candua, de 38 anos de idade, afirma estar sem emprego e, sem apoio do Governo, passa fome, por isso na maioria das vezes tem de recorrer às lixeiras em Viana.
“Às vezes falo uma semana se não conseguir nada não vou comer, não tenho mãe não tenho pai, nunca cheguei a pedir ajuda ao Governo”, afirma, dizendo haver falta de emprego.
O pároco da Igreja Católica Pio Wakussanga, que trabalha na zona dos Gambos, na Huila, diz existir casos extremos de fome e de falta de água.
“A vulnerabilidade só diminui mas não desapare, é necessário que se tenha um programa sério para aqueles que são realmente vulneráveis”, defende o conhecido Padr Pio.
A Voz da América tentou o contato com o Ministério da Ação Social, Família e Promoção da Mulher, mas não obteve qualquer resposta.
Voa