Quando um debutante começa o seu tirocínio no Jornalismo, é-lhe inculcada a teoria da busca por estórias que chamem a atenção do público: “É notícia quando o homem morde o cão…(sic!)” . Este é um mantra que se aprende nos manuais de referência do Jornalismo. Quando se assoma pela primeira vez pela porta de uma Redação adentro e tem-se a sorte de se ser profissionalmente orientado por mestres rigorosos. À moda antiga!
Recentemente uma menina de seis anos foi mordida por um cão vadio em Benguela. Os familiares acudiram-na prontamente. Levaram-na ainda com vida ao hospital local. Lá chegados, os médicos deram a “má-nova”: O hospital não tem vacina anti-rábica. Resultado: A menina morreu! Os médicos ficaram impotentes. Os familiares revoltados. Um crime (mais um) que vai ficar sem castigo.
A falta de assistência médico-medicamentosa constituem o “corpo de delito” do crime que deixou a terra da “mulata sestrosa” comovida. As acácias ficaram mais vermelhas. Mais uma família perdeu um ente querido num hospital por falta de meios para a sua assistência. Uma morte que bem poderia ser evitada se Angola tivesse, de facto, uma ministra da Saúde e não dos Hospitais.
A Executivo anda a jactar-se por conta dos hospitais que estão a ser erguidos em quase todo o País. Não passam de estruturas vazias. Morgues de grande dimensão. Hospitais para onde se acorre para debelar uma maleita e sai-se de lá mais doente. Moribundo. Ou mesmo morto. A ladainha do investimento em hospitais é, no mínimo, um insulto.
A falta de vacina anti-rábica num hospital é inaceitável. É desconcertante! É uma realidade que descompassa o coração de quem acompanha a enrabichada e obstinada propaganda de investimento infrutífero que, alegadamente, se está a fazer no sector da Saúde. O Titular do Poder Executivo (TPE) inaugura hospitais de grande dimensão, descerra a lápide e faz-se uma fanfarra ruidosa. Mas tais estruturas não passam de uma coisa: Hospitais vazios de tudo e cheios de nada. Sobretudo de medicamentos e de técnicos qualificados.
Uma menina morreu por falta de uma vacina anti-rábica em Benguela depois de ter sido mordida por um cão vadio. É notícia! Por quê? Porque com uma só mordidela um cão desmascarou o Executivo. Ajudou a revelar que o investimento inútil feito em hospitais não passa de um embuste. Em condições normais isso já não seria notícia. Notícia seria se, providencialmente, um cão vadio mordesse, por estes dias, a ministra dos Hospitais e ela marchasse…para Portugal com o fito de tomar a vacina anti-rábica. Isso seria notícia. Grande notícia!
Jorge Eurico