O café está longe de recuperar a relevância que já teve na economia nacional, pois são vários os constrangimentos que o afectam: infraestruturas do País, falta de financiamento e produção maioritariamente familiar. Mas há pequenos passos a serem dados.
Angola produziu nos primeiros nove meses do ano apenas 7.500 toneladas de café, naquela que é já a maior produção dos últimos seis anos, tendo exportado um terço desse valor, de acordo com cálculos do Expansão com base em estatísticas do Instituto Nacional do Café (INCA). Ainda assim, a produção do “bago vermelho” equivale hoje a apenas 3% da produção registada no período colonial.
Em 1973, ano em que o País teve a última grande safra antes da independência nacional, o volume colhido foi de 240 mil toneladas de café, plantado numa área de produção de 500.000 hectares. Décadas depois, regressar aos tempos áureos da produção e exportação de café é uma tarefa que tarda em acontecer e apesar de um ligeiro aumento nos últimos anos na produção e na exportação ainda está longe de recuperar a relevância que já teve na economia nacional.
O País exportou no ano agricola 2022/2023 cerca de 3,5 milhões USD em café, com a venda de 1.427 toneladas lá para fora, segundo avançou há tempos o antigo ministro da Agricultura, António Francisco de Assis, um valor considerado baixo para aquela que já foi uma das principais culturas angolanas e que é uma das principais comoddities transaccionadas nos mercados internacionais.
Portugal, Marrocos, Espanha, Turquia, China, Sérvia, Bélgica e Alemanha foram os mercados que compraram café angolano, que é maioritariamente produzido nas provincias do Uige, Cuanza Sul, Cuanza Norte e Bengo (maior produção) mas também Malanje, Huambo, Bié, Benguela e Huila. Só que se trata de uma produção que é feita maioritariamente por famílias, havendo pouca produção industrial, ao contrário do que acontecia antes da independência. “Nesta altura podemos falar que 80% da produção ainda é feita pelas famílias. Já existe alguma produção empresarial, mas as familias são a grande maioria”, disse ao Expansão o director do INCA.
Quem produz reconhece que ainda há muito por fazer. Mas vontade só não basta. É preciso que se desmistifique a cultura do café para que possa desenvolver. “Faltam apoios concretos para a produção de café. É uma fileira que leva o seu tempo e as pessoas não estão dispostas a isso”, admitiu ao Expansão um dos produtores do Cuanza Sul. Ainda assim, só nos primeiros nove meses deste ano já foram produzidas mais toneladas de café do que em 12 meses dos últimos anos (ver gráfico). Mas, de acordo com este produtor, que solicitou anonimato, este aumento tem sido feito à custa de sacrificios de muitos compradores que acabam por financiar a produção de famílias.
“Alguns compradores fazem papel de instituição financeira e ajudam as famílias a produzir, financiando a produção em algumas regiões”, disse. E acrescenta: “é fundamental que o Executivo apoie realmente a produção. O financiamento é primordial. O INCA tem que ser mais activo e estar mais no terreno. Não basta distribuir mudas. As famílias precisam de muito mais”, avançou.
Expansão