Os crimes de branqueamento de capitais e o desrespeito às normas do mercado interbancário têm levado a uma série de mudanças regulatórias pelo Banco Nacional de Angola no reforço de uma das áreas mais sensíveis do sistema financeiro angolano: o ‘compliance’. Neste artigo, apresentamos o perfil dos cinco gestores que monitoram a conformidade das operações das cinco principais instituições financeiras do País
O Compliance Officer, departamento que assegura o cumprimento das normas de boa governança, enfrenta um dos seus maiores desafios com vista um rigoroso controlo regulatório para o sistema financeiro nacional.
A preocupação do Banco Central angolano, endossado com a última decisão do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), que voltou a incluir Angola na “lista cinzenta”, tem levado a que esteja de olhos no perfil dos chefes das direcções de compliance da banca nacional.
A acção do supervisor, que resulta do aviso n.º 11/20 de 21 de Abril, é extensiva a outros colaboradores que detêm posições de gestão relevantes no controlo interno das entidades financeiras bancárias, nomeadamente os gestores dos departamentos Financeiro, Controlo de Risco, Tecnologia de Informação, Auditoria e áreas tomadoras de risco.
Dito de outro modo, com a inclusão de Angola na lista de países sujeitos à monitorização reforçada, o BNA retirou da gaveta a sua norma que obriga ao registo especial dos gestores com influência significativa na gestão dos assuntos correntes da instituição e com reporte hierárquico directo ao órgão de administração ou, dependendo da estrutura organizativa, a um dos membros dos órgãos de administração.
Na prática, a actuação do BNA, com a liderança de Manuel António Tiago Dias, no reforço da supervisão aos governos dos bancos, vai no sentido de que, para a obtenção da equivalência regulamentar e de supervisão que procura junto da Comissão da União Europeia, incluindo a exclusão do país da ‘lista cinzenta’ do GAFI (Angola tem até Janeiro de 2027 para cumprimento do plano de acção), deve haver um alinhamento na luta pela prevenção de eventuais actividades ilícitas que comprometam a reputação da instituição e, no limite, do sistema financeiro no seu todo.
Esta adequação é também um alerta para os directores de conformidade/compliance, ou Chief Compliance Officer (CCO), que estão sob observação do regulador financeiro, devendo as suas decisões ou pareceres pautarem pela autonomia e independência.
Eis o resumo do perfil profissional dos veladores pela reputação e integridade do ‘Big Five’ da banca angolana (BAI, BFA, BIC, BMA e BPC), ou seja, alguns dos principais rostos no alinhamento com o Banco Central na “moralização” do sistema financeiro, monitorando qualquer comportamento das referidas instituições que possam prejudicar a credibilidade do mercado financeiro.
Banco Angolano de Investimentos (BAI)
Nadhia Victorian é mestre em Gestão de Serviços Financeiros, pela universidade britânica de Salford. Tem licenciatura em Auditoria, pela Universidade de Tecnologia de Tshwane, África do Sul.
Com mais de 15 anos de experiência dedicados à conformidade, auditoria e gestão de risco, iniciou carreira em 2006 numa das Big Four de Auditoria, a Ernest & Young, como assistente administrativa, e, pouco tempo depois, como técnica de auditoria.
Em 2008, entra para os quadros do Banco Angolano de Investimentos (BAI), primeiro, como técnica de auditoria, e, em 2010, como técnica de compliance, onde permaneceu por 7 anos. Em 2017, Nadhia ascende para o cargo de chefe de Departamento de Análise e Investigação. Foi preciso, apenas, um ano, para, em 2018, assumir a função de Chief Compliance Officer do gigante número um em activo do sistema financeiro nacional.
Banco de Fomento Angola (BFA)
O seu percurso na banca foi iniciado há 13 anos, como técnica de operações internacionais num dos maiores bancos da Europa, o BNP Paribas, que resultou da fusão entre o Banco Nacional de Paris com o Paribas.
Licenciada em Gestão e Mestre em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais, pelo Instituto Superior de Gestão de Lisboa ou Lisbon of Economics Management (ISEG), Liana Marque Santos é a nova chefe da direcção do compliance do Banco de Fomento Angola (BFA), o segundo maior banco em activo do sistema financeiro nacional.
Antes, exerceu funções idênticas no Finibanco Angola e, posteriormente, no Access Bank Angola, entre Junho de 2021 até Setembro de 2024.
Destacou-se, ainda, pela implementação e liderança da área de Controlo Cambial, além de ter desempenhado funções como Técnica de Auditoria e Controlo Interno.
Banco Internacional de Crédito (BIC)
Dumilde das Chagas Simões Rangel fez Gestão de Negócios na Universidade InterContinental Americana, em Houston (EUA), e possui várias formações ligadas ao compliance pela KPMG e Deloitte.
Entrou na banca há 12 anos, precisamente em Fevereiro de 2012, sendo que toda a sua carreira tem sido feita no terceiro maior banco em activo do país, o Banco Internacional de Crédito (BIC).
Começou como gestor de contas no Centro de Empresas, onde permaneceu por apenas 3 meses, transitando para Gestor de Contas do Departamento de Petróleo e Gás. Em Abril de 2013, ascende à categoria de gerente, função que ocupa até Outubro de 2022, altura em que é nomeado director daquele departamento de Oil & Gás.
Em Março de 2023, Dumilde assume a pasta de subdirector da direcção de Compliance e, em Dezembro de 2024, é designado o Compliance Officer da entidade.
Banco Millennium Atlântico (BMA)
Irina Delgado é a Head of Compliance do Millennium Atlântico. Formada em Direito pela Universidade de Lisboa, detém quatro pós-graduações, um em Direito das Sociedades Comerciais e outro em Direito Bancário, ambas pela Universidade Agostinho Neto.
Na Marketing Business School (IPAM), Delgado fez pós-graduação em Marketing e, no Instituo de Ciências Jurídico-Políticas (FDL), em parceria com o Instituto de Direito Penal e Ciências Criminais (IDPCC), cursou Corporate Governance, Compliance e Supervisão Pública.
Está ligada à banca a precisamente 20 anos, tendo iniciado a carreira em 2005 como técnica de assessoria jurídica no Banco de Fomento Angola (BFA) e, ao fim de 3 anos e meio, integrou o Banco de Negócios Internacional (BNI), ocupando as mesmas funções. Em 2009, ingressou no Banco Atlântico, onde foi coordenadora da direcção jurídica e de directora da direcção jurídica.
Com a fusão do Banco Atlântico e do Banco Millennium Angola, que adoptou a designação de Banco Millennium Atlântico, em Dezembro de 2017, passou a assumir a direcção de compliance da entidade financeira.
Banco de Poupança e Crédito (BPC)
Nádio Miguel Lopes Garrido, chefe do departamento de compliance da maior instituição bancária detida pelo Estado, possui uma licenciatura em Direito, pela Universidade Agostinho Neto, e mestrado em Gestão de Propriedades Imobiliário, pela britânica Universidade de Salford.
Tem quinze anos de banca, iniciado em 2009, precisamente no Banco de Poupança e Crédito (BPC), onde tem feito toda sua carreira no sector financeiro. No banco de capitais públicos, ingressou como jurista do departamento de crédito na Direcção de Pequenas e Médias Empresas. Mais tarde, entre Junho de 2017 a Junho de 2019, exerceu a função de chefe do departamento de contratação, uma unidade da direcção jurídica e contencioso.
Em Junho de 2019, Garrido é nomeado subdirector da direcção jurídica e de contencioso e, em Janeiro de 2024, transitado para função de Chief Compliance Officcer, cargo que ocupa até à data presente.
O Telegrama