Operadores não estão a cumprir com as prestações da compra dos novos autocarros

As empresas reclamam do facto de não existirem peças e acessórios no mercado nacional, o que obriga a importar ou a parar os autocarros, aumentando os custos e reduzindo as receitas orçamentadas.

As operadoras de transportes públicos que receberam os autocarros do Estado a crédito, no âmbito da estratégia do Ministério dos Transportes para a segurança e mobilidade urbana nas 18 províncias do País, estão com bastantes problemas em cumprir com os reembolsos contratualizados e pedem à tutela para rever o valor mensal que são obrigados a pagar para amortizar a dívida.

Em termos práticos, a maioria dos autocarros foi avaliado em 58 milhões Kz, valor a ser amortizados durante 10 anos ou em 120 prestações mensais, o que significa uma prestação mensal entre os 460 mil Kz e os 480 mil Kz/mês, dependendo da província e do tipo de autocarros.

Mas, ao que apurou o Expansão, as operadoras não estão a cumprir o que foi estabelecido no contrato, pagando apenas entre 35% a 70% do valor contratualizado. As mais de 10 empresas que o Expansão consultou, tanto em Luanda como nas diferentes províncias, revelaram que já escreveram ao Ministério dos Transportes com conhecimento dos governos provinciais, relatando as dificuldades que estão a enfrentar para honrar o contrato. As empresas pedem uma solução para o assunto, mas até ao momento não obtiveram qualquer resposta. Nenhuma confirmou que estava a cumprir o contrato na íntegra.

As operadoras dizem mesmo que “não é viável amortizar o valor fixado no contrato, por causa das dificuldades que têm na reposição de peças e acessórios”. Outras defendem que se deveria olhar para as especificidades de cada província, mediante um estudo diferenciado, porque a realidade na facturação diária é distinta de região para região.

É o caso, por exemplo, dos operadores da Huíla, para onde foram 64 autocarros, que numa carta conjunta endereçada à direcção provincial dos Transportes, Tráfego e Mobilidade Urbana, a que o Expansão teve acesso, defendem que “a questão deve ser revista, porque o mercado de Luanda não pode servir de base de estudo para as outras províncias, dada a sua densidade populacional, que permite um número superior de passageiros e de viagens diárias”.

Peças e Acessórios

A operadora Rosalina Express, que actua em Luanda, diz que “na altura houve preocupação do governo em vender os meios, mas não houve preocupação no aprovisionamento das fontes de fornecimento de peças e acessórios”. Um responsável da empresa confirma que no mercado local não se consegue suprir as necessidades de peças e acessórios, o que limita a manutenção conveniente das viaturas, aumenta o número autocarros inoperantes nas bases e oficinas e, consequentemente, impede-as de fazer as viagens programadas e arrecadar valores possíveis de cobrir a prestação mensal.

E acrescenta que “é impossível a empresa entrar no processo de importação de peças por desfasamento das taxas de câmbio e desvalorização do kwanza”, remata o responsável da operadora que adquiriu 53 autocarros.

Um director da AngoReal, que pediu para não ser identificado, confirmou que a empresas apresentou duas possibilidades ao governo. “Ou nos põe aqui um local, onde possamos comprar acessórios para os autocarros que comprámos, ou então revê os contratos baixando os preços de venda, para que nós possamos pagar de acordo com a nossa facturação. Defendemos que o País tem de ter uma representante da marca que venda os acessórios que precisamos, para que não seja necessário importar as peças”, revela.

Já a Macon, que comprou 75 autocarros, justifica que “não está a cumprir as amortizações estipuladas, porque os subsídios ao preço da tarifa comparticipada não estão a ser pagos pelo governo, conforme os dados fornecidos pelo Sistema de Bilhética Eletrónica, e o que recebem de subsídio não é suficiente para manter os custos operacionais e o pagamento do que é devido ao Estado”, refere a operadora, em resposta a uma questão do Expansão.

Entretanto, o Expansão solicitou ao Instituto Nacional dos Transporte esclarecimentos para saber, afinal, quantos autocarros foram vendidos a nível nacional e o que a instituição pensa fazer com as operadoras que não estão a cumprir o contrato? Mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.

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