A recente inclusão da construtora angolana Omatapalo no Pacto Global das Nações Unidas levanta sérias questões sobre a coerência e a integridade desta iniciativa de sustentabilidade corporativa. O Pacto, que visa alinhar as estratégias empresariais aos Dez Princípios Universais e aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agora abriga uma empresa cuja reputação é duvidosa.
Como é óbvio, a adesão da empresa Omatapalo – protegida pelo Presidente da República, João Lourenço – compromete a credibilidade do referido Pacto, transformando as Nações Unidas num esconderijo de instituições que usam a corrupção para se beneficiar de obras públicas.
Desde a sua criação em 2000, o Pacto Global tem sido um farol para práticas empresariais responsáveis, promovendo direitos humanos, trabalho digno, proteção ambiental e combate à corrupção. No entanto, a inclusão da Omatapalo, envolvida em diversos escândalos de corrupção, contradiz flagrantemente esses valores. Este passo não só compromete a credibilidade do Pacto, como também mina a confiança pública nas intenções da ONU de promover uma sustentabilidade genuína.
Angola, um país que ainda luta para se libertar das garras da corrupção sistémica, vê-se agora com 23 empresas no Pacto Global. A presença da Omatapalo entre estas empresas suscita dúvidas sobre a real eficácia e seriedade deste compromisso com a sustentabilidade e a integridade corporativa.
Se o Pacto Global deseja ser um motor de mudança positiva, deve priorizar a inclusão de empresas que demonstrem um compromisso genuíno e comprovado com os princípios que defende.
A inclusão da Omatapalo poderia ser vista como uma oportunidade para a empresa corrigir os seus rumos e adotar práticas mais transparentes e éticas. Todavia, sem uma reformulação profunda e verificável das suas práticas, essa integração parece mais um golpe de marketing do que um passo significativo em direção à sustentabilidade.
A ONU deve estabelecer critérios mais rigorosos para a adesão ao Pacto Global, garantindo que apenas empresas com histórico comprovado de responsabilidade corporativa possam fazer parte dessa iniciativa.
A presença da Omatapalo no Pacto Global também traz à tona a questão da implementação e monitorização dos compromissos assumidos pelas empresas. É fundamental que a ONU estabeleça mecanismos rigorosos de supervisão para garantir que as empresas não só assinem compromissos, mas também demonstrem progresso tangível em direção aos objetivos estabelecidos.
Pois, sem uma fiscalização eficaz, o Pacto Global corre o risco de se tornar uma plataforma simbólica sem impacto real, onde empresas podem beneficiar de uma imagem positiva sem realizar mudanças concretas.
Além disso, a aceitação de empresas com histórico duvidoso pode desmotivar aquelas que realmente se esforçam para aderir aos princípios de sustentabilidade e ética. Empresas comprometidas com práticas responsáveis podem sentir-se desvalorizadas quando vêem concorrentes menos escrupulosos receberem os mesmos benefícios de participação no Pacto Global.
Obviamente, isso pode criar um ambiente onde o mérito e a integridade são secundarizados em favor de ganhos superficiais, enfraquecendo a eficácia do pacto como um instrumento de transformação.
É imperativo que a ONU e outras entidades envolvidas no Pacto Global reavaliem os seus critérios de admissão e mantenham um alto padrão de exigência. Isso inclui a realização de auditorias independentes e periódicas para avaliar a conformidade das empresas com os princípios do pacto.
A transparência nos processos de admissão e na divulgação dos resultados dessas auditorias também é crucial para manter a confiança pública e a credibilidade da iniciativa.
A sociedade civil, as ONG e outras partes interessadas têm um papel vital a desempenhar na vigilância das atividades das empresas membros do Pacto Global. Pressionar por maior transparência e responsabilização é essencial para garantir que o pacto não seja apenas um fórum de declarações de boas intenções, mas sim um catalisador para mudanças reais e sustentáveis.
A participação ativa dessas entidades pode ajudar a identificar e denunciar desvios de conduta, contribuindo para um ambiente empresarial mais ético e responsável. A ONU não deveria permitir que empresas como a Omatapalo participem do Pacto Global.
Num momento em que a confiança nas instituições internacionais está sob escrutínio, é crucial que ações sejam tomadas para proteger a integridade e a eficácia de iniciativas como esta. A ONU tem a responsabilidade de garantir que o Pacto Global continue a ser uma força de mudança positiva, promovendo práticas empresariais que realmente contribuam para um futuro mais justo, sustentável e livre de corrupção.
Somente através de uma adesão rigorosa aos seus próprios princípios, e da exclusão daqueles que os violam, o Pacto Global poderá manter a sua relevância e continuar a inspirar empresas em todo o mundo a adotar práticas que beneficiem tanto a sociedade quanto o meio ambiente.
Imparcial Press