O volume de negociações na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) cresceram 60% para mais de 1,5 biliões Kz em 2022, tratando-se do maior valor negociado pela gestora dos mercados de bolsa desde que foi criada. O volume de negociações da BODIVA volta assim a subir depois de uma queda em 2021 para 976 mil milhões Kz, tendo como culpado a queda no volume de negociações de obrigações indexadas ao dólar, que deixaram de ser atraentes para os investidores por conta da apreciação do kwanza face à moeda norte- americana.
Naquele ano contribuiu igualmente para a queda o facto de as operações e os níveis de crescimento dos montantes negociados em bolsa terem já alcançado o planalto e por isso tinham menos margem para crescimento mantendo os produtos e mecanismos de negociação existentes. Para impedir que em 2022 essa queda se transformasse numa tendência, a BODIVA activou as negociações em dois novos mercados, nomeadamente o mercado de bolsa de acções e o mercado de bolsa de unidades de participação, que ainda assim juntos tiveram um arranque tímido e valem menos de 2% do total negociado na bolsa de valores.
A BODIVA lançou igualmente novos mecanismos de negociação como as trocas de activos entre investidores e emitentes, os famosos swaps e os acordos de recompra (REPO, na sigla em inglês) que estes sim tiveram um impacto positivo nas negociações já que permitiram ampliar o volume de transacções de obrigações do tesouro.
Só na primeira transação de swaps envolveu 124,8 mil milhões Kz, ou seja, um montante cinco vezes superior aos mais de 25,5 mil milhões negociados no mercado secundário em acções e unidades de participação de fundos de investimento durante todo o ano. Em termos práticos, os bancos, que são maiores investidores, temendo o peso negativo que as obrigações indexadas (OT-TX) teriam sobre o seu balanço trocaram-nas com o Estado recebendo em troca Obrigações do Tesouro em moeda nacional num montante global à volta de 500 mil milhões Kz.
Estas operações de swap permitiram ao Estado trocar dívida que estava quase a vencer e indexada a moeda estrangeira por outra ligeiramente mais longa e em moeda nacional, cumprindo assim o seu plano de reperfilamento da dívida pública. Foi uma operação com ganhos para ambas as partes já que os bancos viram o efeito positivo de ter muito dinheiro investido em obrigações indexadas ao dólar já que o seu efeito de mitigar o impacto da desvalorização cambial tornou-se quase inexistente, deixando estes investidores de ter mais risco que ganho nas operações que envolvem este tipo de activos.
As OT-TX até já foram em tempos em que o kwanza sofreu acentuadas desvalorizações face ao dólar “a moça mais linda da festa” e por isso mais cobiçadas pelos investidores. Pelo quarto ano consecutivo, as Obrigações do Tesouro não reajustáveis emitidas em moeda nacional (OTNR) lideraram o crescimento e tiveram maior volume de negociações já que tiveram um peso superior a 70% do montante negociado na bolsa de valores em 2022. Teríamos de recuar a 2019 para ver as OT-TX liderarem as negociações, pesando quase 90% do total negociado na bolsa de valores.
Acções trazem mais investidores
Se por um lado os mercados de bolsa de acções onde já estão cotadas as acções de dois bancos, o BAI e o Caixa Angola, não teve grande impacto em termos de volumes de negociação, por outra o mercado de acções, que correspondeu a 1,5% do total negociado em bolsa, liderou a atracção de mais investidores e abertura de mais contas de custódia no mercado.
As contas de custódia que servem para medir o volume de investidores na BODIVA, cresceram 158% para 64.031 contas activas, de acordo com o relatório publicado no seu site. Aliás só em 2022 foram abertas 39.158 novas contas custódia que servem para guardar os valores mobiliários comprados em bolsa, sejam acções ou obrigações.
O BAI e o Caixa lideraram o crescimento das contas de custódia já que durante a oferta pública de venda das suas acções em público era obrigatório qualquer investidor abrir estas contas junto dos referidos bancos.