O antigo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, general Geraldo Sachipengo Nunda, revelou ter recebido ordens do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, para eliminar determinados indivíduos, mas optou por não as cumprir por considerar que, em muitos casos, se tratava apenas de intrigas infundadas.
Em entrevista à Rádio Nacional de Angola, no âmbito dos 50 anos da Independência Nacional, general Nunda explicou que muitas das informações que chegavam a Savimbi careciam de uma verificação mais rigorosa.
Por isso, evitava alinhar na eliminação de pessoas sem provas concretas, especialmente em contextos de incompreensões e intrigas.
“Recebi várias ordens para eliminar certos indivíduos. Nunca o fiz. Preferia dialogar com essas pessoas e compreender a situação, porque, muitas vezes, eram apenas intrigas”, afirmou Nunda. Esta postura levou a desentendimentos com altas figuras da UNITA, incluindo o próprio Savimbi.
O general destacou que, na época, era essencial ponderar antes de decidir sobre a vida de alguém, evitando arrependimentos futuros. “Uma pessoa não é como uma árvore que, depois de cortada, volta a crescer. Quando se tira a vida a alguém, essa pessoa está realmente eliminada”, frisou.
Nunda também revelou ter sido o único no seio da UNITA a opor-se ao processo conhecido como “queima das bruxas”, onde mulheres e crianças eram acusadas de feitiçaria e queimadas vivas por ordem de Savimbi.
Considerou esse processo injusto, questionando como indivíduos bem formados academicamente podiam apoiar tais actos.
“Eu não acreditava que aquelas mulheres tivessem algum poder sobre a guerra. Estava completamente contra e fui o único a levantar a mão”, recordou.
Acrescentou que o próprio Savimbi questionava se ele não tinha receio ao defender sozinho aquelas mulheres, ao que Nunda respondia que precisava expressar o seu ponto de vista.
Noutra abordagem, Nunda mencionou ter sido surpreendido, em 2010, com a nomeação para o cargo de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas, sucedendo a Francisco Furtado.
Considerou que essa nomeação reflectia o compromisso do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, com o processo de Reconciliação Nacional.
Destacou ainda que, durante o seu mandato, era frequentemente consultado pelo malogrado José Eduardo dos Santos, que descreveu como um líder que sabia ouvir e que dedicava tempo para escutar os seus colaboradores directos.
Por fim, Nunda apelou à necessidade de os angolanos preservarem e construírem a paz diariamente, enfatizando que a paz alcançada em 2002 deve ser mantida por todos, dada a magnitude dos sacrifícios feitos para a sua obtenção.
“Precisamos construir e preservar a paz todos os dias para alcançarmos efectivamente a Reconciliação Nacional. E isso faz-se com o envolvimento de todos e não apenas por um grupo de pessoas”, concluiu.
OPaís