Angola enfrenta um grave surto de cólera, e a população, inclusive na capital, continua sem acesso adequado à água potável. Apesar da situação alarmante, o presidente da República mantém inalterável a sua confiança no Ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, que tem sido alvo de diversas denúncias de corrupção tanto em Angola quanto em Portugal.
Borges, acusado de ser o verdadeiro proprietário das chamadas “Girafas” – pontos informais de captação de água bruta, espelhados por vários lugares. Ao longo do canal do Kikuxi – ve-se crescer à proliferação desses pontos de abastecimento, dos quais camiões-cisterna retiram água para vender em várias zonas de Luanda. As comunidades ao longo do canal despejam dejetos diretamente na água, agravando a crise sanitária e expondo a população a surtos de doenças como a cólera e a malária.
O aumento descontrolado das “Girafas” levanta sérias dúvidas sobre a atuação do Ministério da Energia e Águas, que, segundo especialistas, não pode estar alheio ao fenômeno. Enquanto isso, deputados da Assembleia Nacional desviam o foco das questões cruciais de saúde pública e infraestrutura hídrica, concentrando-se em debates periféricos que pouco impactam a vida dos cidadãos.
Além das denúncias ligadas ao setor da água, Borges teria influenciado diretamente o afastamento da ex-presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gamboa. A magistrada teria identificado discrepâncias graves nas contas de contratos firmados pelo Ministério da Energia e Águas, como o caso da construção de 23 casas na barragem de Cálculo Cabaça, cujo orçamento apresentado foi de 6,3 milhões de dólares – um custo unitário de 273 mil dólares por casa, enquanto a empresa subcontratada cobrava apenas 30 mil dólares por unidade.
De acordo com informações divulgadas pela página Joana Clementina, o ministro João Baptista Borges e sua família acumularam uma fortuna avaliada em cerca de 25 bilhões de dólares, valor que contrasta com a dura realidade enfrentada pela maioria dos angolanos, que vivem sem acesso a serviços essenciais de água e energia.
Enquanto a crise se aprofunda, a falta de respostas concretas por parte do governo preocupa organizações da sociedade civil, que denunciam a gestão ineficaz dos recursos públicos e o agravamento das condições de vida da população.
Joana Clementina