O indicador de (des)confiança do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano revela o que os 20 milhões de angolanos pobres sentem todos os dias: A situação económica de Angola e das famílias piorou nos últimos doze meses, sobretudo com o aumento do desemprego e dos preços dos bens e serviços. Convenhamos que, assim, o general João Lourenço tem dificuldade e provar que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500…
Segundo o Inquérito de Conjuntura do Consumidor referente ao terceiro trimestre de 2024, elaborado pelo INE e divulgado hoje, a maioria dos entrevistados, numa amostra de 3.000 famílias das 18 províncias, perspectivam um aumento dos preços dos bens e serviços nos próximos 12 meses. Ou seja, há 49 anos que o MPLA continua igual a si próprio: Poucos com muitos milhões e muitos milhões com pouco ou nada.
Há seis semestres consecutivos que o Indicador de Confiança dos Consumidores em Angola mantém a tendência decrescente, realçando o “baixo grau de optimismo” das famílias angolanas, refere o estudo do INE.
De acordo com o inquérito, influenciou negativamente o grau de optimismo das famílias angolanas a previsão de aumento de desemprego, as baixas expectativas relacionadas com a situação económica do país e financeira das famílias nos próximos 12 meses, bem como a situação económica actual dos agregados.
Os agregados familiares, quando questionados se na actual situação económica do país acham possível poupar dinheiro, 22% disseram que sim, uma queda de 0,9 pontos percentuais em comparação ao trimestre homólogo.
Ainda assim, dois em cada 100 inquiridos afirmaram que pretendem comprar um carro nos próximos dois anos, uma pretensão que caiu 0,4 ponto percentual se comparado com o trimestre homólogo.
Quanto a aquisição ou construção de uma casa nos próximos dois anos, 11 em cada 100 entrevistados afirmaram que sim, “com certeza absoluta” que pretendem comprar ou construir uma casa, comparativamente ao período homólogo, observou-se um aumento de um ponto percentual.
O INE indicou que 50,5% dos inquiridos tem idade compreendida entre os 25 e 44 anos e 6,5% corresponde ao grupo etário dos 15 aos 24 anos.
MORRER AJUDA A DIMINUIR O NÚMERO DE POBRES
Apobreza acompanhará os angolanos durante muito tempo, “com perdas sociais anexadas relevantes e inviabilizadoras do vencimento do seu ciclo vicioso”, referia um Relatório Social de Angola da Universidade Católica angolana, referente a 2019/2020. Quatro anos depois a afirmação mantém plena actualidade. 49 anos depois da independência, tudo continua na mesma.
O documento do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, referente a 2019/2020, referia que não será apenas na criação de novos postos líquidos de trabalho que se encontrarão vias de ultrapassar a pobreza, “que anualmente cria uma série de descontentes e despersonalizados, para quem a única via de sobrevivência é a indigência”. Nada de novo. A atestá-lo estavam e estão 20 milhões de… pobres e mais de cinco milhões de crianças fora do sistema de ensino.
“Países com massas assustadoras de pobres são países desqualificados na cena internacional e para alguns o alívio da pobreza só é conseguido através das doações internacionais. Os Governos dos países com elevadas taxas de pobreza deveriam envergonhar-se e penitenciarem-se junto dos seus cidadãos, sobretudo quando coabitam com compatriotas de elevado padrão de vida”, refere-se na introdução do relatório.
De acordo com o documento, em Angola uma das prioridades sociais tem de ser a criação de um Estado social com características universais e sustentável no tempo, realçando que a taxa da pobreza não pode ser reduzida apenas pela vertente do crescimento e da criação de emprego.
O relatório defendia que o Fundo Soberano de Angola tem de ser um instrumento de garantia dos equilíbrios inter-geracionais e não um complemento conflituante com o Orçamento Geral do Estado.
“O Fundo Soberano, ao agregar dinheiro proveniente da exploração do petróleo não renovável – um recurso da nação – pode, se se quiser, ter um papel central na construção de um Estado social amigo dos cidadãos e promotor de uma igualdade entre os cidadãos”, argumentava-se no relatório. Nada de novo. O petróleo não é um recurso da nação. É um recurso do MPLA o que, convenhamos, não deveria ser – mas é, a mesma coisa.
Numa análise à recessão social em Angola, o relatório realça: “Depois de 2014, ficou evidente esta situação no país, com um decréscimo acentuado do valor agregado dos respectivos sectores integrantes: entre 2010 e 2018, a deterioração do Produto Interno Social registou uma taxa média anula de -12% e no período 2014-2018 agravou-se a crise, passando aquele valor para -28%. Mais claro não há!”.
“Em todas as componentes são evidentes comportamentos recessivos depois de 2014, levando, por conseguinte, a admitir-se que a deterioração das condições de vida e a degradação de valores sociais, éticos e morais básicos passaram a ser uma constante na sociedade angolana”, destaca-se.
O relatório nota que o valor e a degradação dos rendimentos são as características mais salientes da recessão social no país, indicando que o valor mais elevado do Produto Interno Bruto (PIB) por habitante em dólares corrente aconteceu em 2014, apesar da queda do PIB petrolífero (resposta à baixa do preço do barril de petróleo), mas compensada por um inusitado crescimento de 42,8% no PIB não petrolífero, e de acordo com as contas nacionais.
“A partir do segundo semestre deste ano, conforme os Boletins de Conjuntura do INE [Instituto Nacional de Estatística], a queda na produção interna foi permanente, o encerramento de empresas passou a regra geral de adaptação das estratégias empresariais privadas e o desemprego passou a ser a condição normal da força de trabalho nacional. O PIB por habitante de baixo valor e o aumento da desocupação da força de trabalho contribuíram para a recessão social do país”, lê-se no relatório.
“São suficientes as considerações anteriores sobre a crise social e as suas características em Angola, nos tempos actuais, que se irá agravar substancialmente até finais de 2022”, acrescenta o documento.
Quatro (4) em cada dez (10) angolanos são… pobres
AUniversidade Católica de Angola estimava que a taxa de pobreza no país ronda os 42% (a ONU fala em 52%), enquanto a da pobreza extrema se situa nos 20%. São números emblemáticos para demonstrar (mais uma vez) a incompetência dos governos – todos do MPLA – que estão no Poder desde 1975, ou seja há 49 anos.
O CEIC estimava que quatro em cada dez angolanos são pobres. Tomemos, embora não seja novidade, nota desta bandeira do Governo: 4 em cada 10 cidadãos angolanos são pobres.
Segundo o director do CEIC, Alves da Rocha, os números sinalizam a “degradação constante do nível de vida dos angolanos”, motivada pela crise que o país vive desde finais de 2014 e que mostrou que em matéria de competência e seriedade governativa Angola está entregue à bicharada. Bicharada que comeu tudo e não deixou nada, que mandou a diversificação da economia para as calendas, criando, dessa forma, 20 milhões de pobres.
“Em 2015 a capacidade de crescimento da economia foi apenas de 0,5%”, notou o economista, quando apresentou, em Luanda, o Relatório Económico de Angola 2018, salientando que “a partir daí, Angola entrou em processo de desaceleração económica, o que significa que, em cada ano, se produzem menos bens e serviços”. Desaceleração essa que, contudo, permitiu que mais uns tantos ficassem ainda mais ricos.
Para o docente da UCAN, a taxa de crescimento do PIB comparada à taxa de crescimento da população, estimada pelo INE em 3,1%, evidenciava a “degradação acentuada do nível de vida dos angolanos que desde 2015 atingiu os 15,5%”.
“Em cada ano os angolanos ficam mais pobres, não só porque não há crescimento na economia, mas também porque o desemprego aumenta e consequentemente não há fontes de rendimentos para as famílias”, apontou, lamentando a situação.
Alves da Rocha apontou igualmente o desemprego, cuja taxa cresceu 8,8% nos últimos dois anos, atingindo 28,8% da população activa, segundo um relatório do INE, como uma das “consequências das reformas e do reajustamento macroeconómico em curso”.
A então ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves, disse no dia 23 de Outubro de 2019 que o país (falava de Angola) registou uma redução no nível de pobreza, passando dos 36,6% em 2017, para 29%, com uma meta de 25% até 2022. Como a ministra “assinou” um contrato para mentir, desde que seja para benefício do MPLA, até se compreende.
Faustina Alves falava à imprensa no final de um encontro promovido, em Luanda, pela ONU sobre a redução da pobreza, no âmbito das celebrações do Dia das Nações Unidas.
A então governante do MPLA considerou “muito bom” que Angola comece a reduzir os seus níveis de pobreza, enaltecendo o encontro de troca de informações e análise de estratégias para se atingir a meta dos 25%, de acordo com os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável.
“O Governo está a trabalhar, cada vez mais junto das populações. Estamos a identificar as suas necessidades e temos estado a arranjar formas de reunir as condições”, disse a ministra, passando uma monumental esponja sobre o facto de, estando no Poder desde 1975, o MPLA ter conseguido “dotar” o país com 20 milhões de pobres.
Segundo Faustina Alves, a população estava a produzir e as autoridades a arranjar formas de facilitar o escoamento da produção, uma das reclamações existentes.
Folha 8