Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa, conhecido como “Nandinho” entre os amigos, nasceu a 27 de Agosto de 1962 e cresceu no Bairro Popular, em Luanda, onde mantém fortes ligações até hoje.
Formou-se em Direito pela Universidade Agostinho Neto na década de 1980, posteriormente tornando-se professor auxiliar de Direito do Comércio Internacional na mesma instituição.
De 1990 a 1994, Costa integrou o Gabinete do Investimento Estrangeiro da Embaixada de Angola em Portugal como técnico do Departamento Jurídico e de Negociações. Meses após sua chegada, foi promovido a assessor do Adido Comercial em Lisboa para o Investimento Estrangeiro, mantendo simultaneamente sua posição como assistente na Faculdade de Direito da UAN.
Durante esse período, Costa demonstrou habilidades multifacetadas, prestando consultoria a várias empresas nacionais e estrangeiras interessadas em investir no mercado angolano em plena guerra civil (entre Governo/MPLA e UNITA de Jonas Savimbi).
Sua proatividade resultou em sua nomeação como chefe do Departamento Jurídico e de Negociações do Gabinete do Investimento Estrangeiro e, mais tarde, diretor do Departamento de Promoção de Investimento Estrangeiro em regime de acumulação.
Em 1997, de regresso a Angola, Costa foi nomeado Diretor do Gabinete Jurídico do Ministério do Comércio (MINCO), atualmente Ministério da Indústria e Comércio. No ano seguinte, inscreveu-se na Ordem dos Advogados de Angola e foi designado diretor do gabinete do então Ministro do Comércio, Victorino Domingos Hossi, indicado pela UNITA durante o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Ele acumulou essa função com a de Diretor do Gabinete Jurídico do MINCO.
Em 1999, Costa integrou o grupo de especialistas da UAN responsável pela elaboração do Código Comercial Angolano. No ano seguinte, tornou-se assessor do secretário adjunto do Conselho de Ministros.
Em 2001, o então Presidente José Eduardo dos Santos nomeou Costa para o Conselho de Administração da Angola Telecom. Em dezembro de 2002, Costa foi nomeado assessor do Gabinete do Primeiro-Ministro, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, para a área Jurídica, Parlamentar e de Acompanhamento à Preparação e ao Controlo das Deliberações do Conselho de Ministros.
Dois anos depois, foi nomeado vice-ministro para os Assuntos Eleitorais pelo ex-ministro da Administração do Território, Virgílio de Fontes Pereira, sendo responsável pela extinta Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral (CIPE), encarregada do registo eleitoral no país.
Com a aprovação da atual Constituição em 2010, Costa estava fora do governo, exercendo advocacia na RCJE – Advogados Associados, fundada por Carlos Maria Feijó e Raul Carlos Vasques Araújo, juiz jubilado do Tribunal Constitucional.
Quando Carlos Feijó assumiu funções de ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Costa foi proposto como administrador executivo da extinta Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP). Em 2011, Costa foi retirado da ANIP e, no início de 2012, foi indicado pelo MPLA para integrar a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), com base na sua experiência nas eleições de 2008.
Em 2012, após a renúncia da presidente da CNE, Suzana Inglês, Edeltrudes Costa assumiu a presidência interina e contratou a empresa espanhola INDRA para a logística eleitoral. A empresa foi criticada por apresentar o orçamento mais alto e ser considerada, por setores da oposição, como peça-chave na manipulação de resultados eleitorais pelo MPLA.
Com a vitória do MPLA nas eleições de 2012, José Eduardo dos Santos nomeou Edeltrudes Costa ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, ao lado do general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”. Nesta função, Edeltrudes Costa propôs uma nova lei de investimento que redistribuiu poderes da ANIP para os ministérios, reduzindo a ANIP a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX), sob tutela do Ministério do Comércio.
A confiança de José Eduardo dos Santos em Costa aumentou, e Edeltrudes assumiu a gestão do gabinete presidencial em muitas ocasiões. Costa influenciou a nomeação de Fiel Domingos Constantino como novo ministro do Comércio, e Fiel passou a controlar a APIEX, sucessora da ANIP.
Em 2015, Costa foi afastado do cargo de chefe da Casa Civil devido a alegações de envolvimento em um esquema de transferências de fundos de fornecedores de alimentos para fora do país. Suspeito de receber subornos, foi exonerado, mas manteve-se próximo de JES como Secretário-Geral da Presidência.
Após a saída de JES em 2017, o Presidente João Lourenço recuperou o para chefiar o seu gabinete. Edeltrudes Costa possui relações familiares próximas com a administração atual, sendo pai de uma filha da Administradora Executiva do BAI, Inokcelina Benáfrica Santos, sobrinha da primeira-dama Ana Dias Lourenço.
Edeltrudes Costa é atualmente considerado um dos membros mais influentes do regime, comparado a “Kopelipa”. Ele mantém relações estreitas com figuras importantes como o ex-ministro do Interior, Ângelo de Barros Veiga Tavares, e o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, cujas famílias possuem negócios em comum no sector da energia.
Outros aliados incluem Amadeu Leitão Nunes, secretário de Estado do Comércio, e Arnito José Agostinho, presidente do Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM).
Com João Lourenço, Costa continua a ter influência significativa, ignorando acusações de envolvimento em esquemas de corrupção e irregularidades. Recentemente, seu nome foi associado à seleção de empresas para importar 270 mil toneladas de arroz, confirmando seu controle sobre as importações de alimentos em Angola.
Na mais recente rotação do Governo, João Lourenço manteve Edeltrudes Costa, apesar da exposição recente, através da comunicação social, sobre o recebimento em 2013, quando era chefe da Casa Civil de JES, de USD 17,3 milhões de Domingos Inglês, empresário próximo de “Kopelipa”. A revelação é atribuída, em meios do regime, a uma vingança pessoal contra Costa, por parte de elementos próximos de JES, que se sentem traídos por ele.
Recentemente, o seu nome foi evocado pelo secretário de Estado do Comércio, Amadeu de Jesus Alves Leitão Nunes, em funções desde 2017, quando eram selecionadas as empresas que se candidataram no concurso público para importar 270 mil toneladas de arroz.
Na altura, Amadeu Leitão Nunes deixou claro ao actual ministro da Indústria e Comércio, Rui Miguéns de Oliveira, protegido de José de Lima Massano, ministro de Estado para a Coordenação Económica da Presidência da República, quais eram as empresas que deviam ser selecionadas para tal desiderato.
Rui Oliveira abordou o seu protetor [José de Lima Massano], manifestando a sua indignação pela forma como foi abordado pelo seu secretário de Estado (equivalente ao vice-ministro). Massano orientou-lhe a deixar as coisas como estavam.
Dias depois, este ministério anunciou as empresas Noble Group S.A., Bsrat General Trading Lda., Beilul Comércio Geral Lda., Merhat Comércio e Indústria Lda., Anseba Lda., Angoalissar Comércio e Indústria Lda., Ros ‘Bien Lda., Gulkis e Hidmona General Lda. como as vencedoras.
Desde a chegada de João Lourenço ao poder e com o afastamento dos generais Kopelipa e Dino das lides políticas e económicas, Edeltrudes da Costa passou a controlar literalmente o Ministério da Indústria e Comércio nos bastidores, tendo em conta a sua experiência.
Em palavras miúdas, nada entra em Angola sem passar pelo crivo do ministro de Estado e diretor do Gabinete do Presidente da República, consolidando seu controle sobre as importações de alimentos no país e mantendo influência sobre empresários estrangeiros.
Imparcial Press