O director nacional de Recursos Humanos (RH) do Serviço de Investigação Criminal (SIC), subcomissário João Nazaré da Silva Neto, é acusado de liderar um esquema ilícito que facilitava a entrada de civis naquele órgão tutelado pelo Ministério do Interior, contornando os procedimentos legais. Estima-se que esta operação tenha rendido mais de 100 milhões de kwanzas.
A denúncia foi formalizada por Lambi Manuel Pedro Cano, um ex-integrante do esquema, numa exposição enviada ao então diretor-geral do SIC, António Paulo Bendje, a 10 de Abril de 2024.
Cano afirma estar sob pressão das 213 vítimas do esquema fraudulento, que agora o culpam pela perda de dinheiro e alegam terem sido abandonadas pelos principais beneficiários.
Modus operandi do esquema
De acordo com o relato de Cano, o grupo exigia pagamentos entre 200 mil e 1 milhão de kwanzas, ou até mesmo terrenos devidamente documentados, como contrapartida para o ingresso no SIC.
Este processo enganoso começou nos primeiros meses de 2024 e movimentou cerca de 109 milhões de kwanzas, excluindo os valores recebidos em espécie.
O esquema era estruturado de forma hierárquica: o subcomissário João Nazaré orientava Gerson Márcio Jordão Mendes Monteiro, mais conhecido por “Chefe Sheu”, que, por sua vez, delegava a Lambi Cano a tarefa de recrutar e interagir com as vítimas, mantendo uma falsa aparência de legitimidade.
Embora não fosse efectivo do SIC, Lambi Cano desempenhava um papel central, criando um ambiente de confiança que enganava as vítimas. Inclusive, realizava chamadas telefónicas ao subcomissário Nazaré na presença das vítimas, reforçando a credibilidade da fraude.
Muitas vítimas descreveram o esquema como “muito transparente”. Mateus Silva, uma das pessoas burladas, afirmou que “o processo parecia tão claro que jamais se imaginaria tratar-se de uma fraude”.
Em Malange, onde a maior parte das operações foi realizada, criou-se até um grupo no WhatsApp chamado “Membros do SIC Malange” para fornecer atualizações sobre o suposto progresso do processo.
Após efetuarem os pagamentos, as vítimas eram orientadas a aguardar entre 30 e 45 dias antes de serem enviadas ao Centro de Recrutamento da Damba, na mesma província.
As transações financeiras eram feitas através de contas pertencentes a “Chefe Sheu”, nos bancos BAI e BFA. Para disfarçar ainda mais o esquema, algumas vítimas eram instruídas a entregar os valores em dinheiro vivo directamente aos responsáveis.
Em troca da sua participação no esquema, “Chefe Sheu” foi rapidamente promovido a oficial superior no SIC e, de forma controversa, nomeado para um cargo de destaque no SIC/Bengo.
O esquema que vinha sendo praticado há vários meses, só recentemente foi denunciado devido a uma tentativa de assassinato contra Lambi, e para se proteger decidiu revelar os detalhes da operação.
A denúncia chegou à Direcção Nacional de Combate à Corrupção, liderada por Caetano Manuel Mufuma, que, segundo acusações, não apenas ignorou o caso como também terá tirado proveito dele.
Alega-se que Mufuma terá usado a situação para exigir transferências e promoções de agentes de sua confiança, além de introduzir na corporação o seu filho, apelidado de “Mufuma Diabo”, procurado por crimes como furto, agressão e violação sexual de menores.
Confrontado, o subcomissário João Nazaré da Silva Neto recusou-se a comentar o caso sem autorização superior, enquanto Caetano Mufuma optou pelo silêncio.
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