Mais de uma semana é passada desde que a Imprensa desmascarou a tentativa de roubo de trezentos e vinte e três milhões e quinhentos euros aos cofres do Estado. É fartar vilanagem, meus senhores! A investida teve como protagonista o ministro dos Transportes. Ricardo de Abreu alegou – para a frustrada extorsão ao Estado angolano – a aquisição de 600 autocarros. A esse argumento ajuntou a ideia da criação de uma fábrica de montagem de autocarros e com ela arrecadar divisas, exportando o produto final para países vizinhos.
O ministro dos Transportes foi desmascarado. Publicamente! A tentativa de o ministro dos Transportes ir aos cofres públicos à sorrelfa tem dominado a prosa popular nos últimos dias. O curioso é que o Titular do Poder Executivo (TPE) e Presidente da República (PR) “está nem aí” em relação à tentativa de roubo de que se fala no momento. Aos olhos do PR e TPE existem corruptos bons e corruptos maus.
O ministro dos Transportes faz parte da primeira “casta” que é protegida por João Lourenço. Manuel Vicente foi protegido pelo PR. Facilitou a sua fuga para Dubai para escapar à Justiça angolana. Fê-lo porque aos seus olhos o antigo vice-Presidente da República foi (é) um bom corrupto. Ricardo de Abreu é um bom corrupto. Por isso também é protegido de João Lourenço. Por isso precisa do apoio do corruptor-mor.
Adiante! Se, por um lado, o PR alardeia que combate a corrupção em toda linha, por outro, temos um TPE que incentiva, por omissão, a podriqueira descarada que ainda campeia no aparelho do Estado. Sem falar do amiguismo e tráfico de influência. Quando os seus protegidos são associados a comprovados casos de corrupção, João Lourenço assobia para o lado e chuta o balde para o canto. É por isso que João Lourenço não se demarca do escândalo em que está envolvido o nome de Ricardo de Abreu. Está nem aí. Sequer emite sinais de “repreender” ou castigar o ministro dos transportes. Pelo contrário.
O silêncio do paladino do combate à corrupção cauciona a tentativa de assalto aos cofres públicos por parte do ministro dos Transportes. O falatório dos cidadãos não o incomoda. Os cidadãos resmungam. Baixinho. Mas a caravana dos “governantes de turno”, esta, continua a desfilar sua indiferença e arrogância. Ao não se pronunciar publicamente sobre o assunto, João Lourenço sugere estar mancomunado com o titular dos Transportes neste alegado esquema de roubo aos cofres públicos. A inacção do PR face a essa tentativa de roubo confirma que João Lourenço foi copiosamente derrotado pela corrupção existente no aparelho de Estado que prometeu dar luta sem quartel quando assomou ao poder.
Já não restam dúvidas para quem ainda as tinha. Definitivamente. João Lourenço perdeu a moral de falar de corrupção e de apontar o dedo aos seus agentes. E se nos próximos dias não se demarcar da tentativa de roubo de Ricardo de Abreu, João Lourenço conferir-nos-á legitimidade para pensar que ele é parte (muito) interessada na ladroeira de Ricardo de Abreu. Induzirá os cidadãos a concluírem que é o autor moral dessa tentativa de roubo milionário, cujo “cabeça-de-cartaz” é o ministro dos Transportes. Diz-me o que, na condição de superior hierárquico, permites e dir-te-ei se, afinal, apoias ou combates a corrupção!
Por Jorge Eurico