Começou em Lisboa, o julgamento do caso BES, dez anos depois da falência do banco dirigido por Ricardo Salgado. À DW, analista diz que “BES operou como central de captura de poder político e corrupção”.
Com início esta terça-feira (15.10), decorre no Campus de Justiça, em Lisboa, o mediático e complexo julgamento do ex-banqueiro português Ricardo Salgado, o então conhecido “Dono Disto Tudo”, num processo com 18 arguidos e mais de 700 testemunhas que respondem por mais de 300 crimes. Foi a falência do BES que, alegadamente, levou à queda do Banco Espírito Santo Angola (BESA), então administrado pelo ex-banqueiro luso-angolano Álvaro Sobrinho.
Em julho deste ano, e no âmbito de um outro processo, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa tinha notificado para julgamento o ex-presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho, Ricardo Salgado e mais três arguidos, validando na íntegra a acusação do Ministério Público que refere crimes de abuso de confiança agravado, branqueamento de capitais e burla agravada.
O MP acusou Sobrinho de 18 crimes de abuso de confiança agravado, cinco dos quais em coautoria, e cinco de branqueamento. Sobre Salgado recaem cinco crimes de abuso de confiança e um de burla qualificada, mas todos em coautoria.
De acordo com a justiça portuguesa, a acusação do processo BESA, revelada em julho de 2022, diz respeito à concessão de financiamento pelo BES ao BESA, traduzida em linhas de crédito de Mercado Monetário Interbancário (MMI). Foi devido a esta atividade alegadamente criminosa que o BES encontrava-se exposto ao BESA no valor de aproximadamente 4,8 milhões de euros.
Numa recente entrevista exclusiva à DW África em Lisboa, Álvaro Sobrinho disse que o seu processo “nada tem a ver com o caso BES” e criticou “as medicas de coação mais violentas jamais vistas em Portugal” a que ficou sujeito. Afirmou que o extinto BESA não teve responsabilidades na falência do BES em Portugal, como referiu a imprensa portuguesa.
João Paulo Batalha, ex-dirigente da Transparência Internacional Portugal e atualmente vice-presidente da Frente Cívica, disse que o Banco Espírito Santo foi, mais do que uma entidade financeira, uma verdadeira central de captura de poder político e económico, organizadora de corrupção à escala transnacional em Portugal, na Venezuela, em Angola e no Brasil.