Estima-se que cerca de 1,4 mil milhões de peças de vestuário em ‘segunda mão’ são importadas, todos os anos, para a África Subsariana.
Estudo tem a chancela da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE). Angola aparece no ‘ranking 5’ dos países africanos que mais importam roupas usadas, conhecidas no país vulgarmente por ‘fardos’.
Segundo a pesquisa, que tem como ano de referência 2021, Angola importou, nesse período, 80 mil toneladas de roupas em ‘segunda mão’, abaixo, entretanto, da metade das compras do Quénia, líder da classificação, com 190 mil toneladas.
A Tunísia, com 160 mil toneladas, aparece a ocupar o segundo lugar do ‘top 5’, seguida da República Democrática do Congo (150.000) e do Gana, na quarta posição da lista, com 100 mil toneladas de roupas em ‘segunda mão’ importadas em 2021.
De acordo com dados da UNECE, citados pelo portal marroquino Le360, a nível global, os volumes de comercialização de roupas usadas aumentaram quase 7 vezes entre 1992 e 2021, atingindo 3,6 milhões de toneladas nesse ano, num valor de 9,3 mil milhões de dólares.
Estima-se que cerca de 1,4 mil milhões de peças de vestuário em ‘segunda mão’ são importadas, todos os anos, para a África Subsariana.
Mercado lucrativo com fortes impactos económicos, sociais e ambientais
Os números da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE) ilustram o recente crescimento do mercado africano de vestuário usados, impulsionado pela crescente procura pelas populações por vestuário barato.
No entanto, observa o portal, este comércio levanta muitas questões sobre os seus impactos económicos, sociais e ambientais no continente.
Na frente económica, o negócio constitui uma forte concorrência para os sectores de produção têxtil locais, que já estão enfraquecidos e que se mostram incapazes de competir com estas importações.
Do ponto de vista social, o fácil acesso a vestuário barato permite satisfazer as necessidades das populações mais carenciadas. Entretanto, as precárias condições de trabalho do sector e a exposição a produtos químicos presentes nos vestuários levantam muitas questões.
Mas é a nível ambiental que a importação massiva de roupas usadas suscita maior preocupação, porquanto parcela significativa dessas roupas, em mau estado de conservação para serem revendidas, vai parar em aterros ilegais, liberando substâncias tóxicas.
Regular ou proibir?
Confrontado com estes múltiplos desafios, nenhum país africano optou por uma limitação das importações. Uma medida nesse sentido, escreve o Le360, poderia ter um impacto social considerável, ao privar as populações vulneráveis do fácil acesso ao vestuário a custos mais baixos.
No entanto, levantam-se vozes para exigir mais regulamentação à escala continental, em vez de legislação dispersa país por país. O objectivo: controlar melhor os fluxos, visar o vestuário de qualidade, impedindo o envio de roupas usadas inadequadas, e supervisionar esta actividade para maximizar os benefícios económicos positivos e, ao mesmo tempo, reduzir a ameaça ambiental.
Tal como está, de acordo com o portal, este comércio alimenta a dependência de muitos países africanos de nações exportadoras poderosas como a União Europeia (30,4% das exportações globais, com receitas de 1,659 mil milhões de dólares em 2021), os Estados Unidos (15,2% das exportações globais, com 830,9 milhões USD em 2021) ou a China (15,6% das exportações globais, com receitas de 852,6 milhões).
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