A multinacional russa de diamantes, que continua à procura de um comprador para assumir os 41% das suas participações na Sociedade Mineira de Catoca, rejeitou a oferta feita pela De Beers, avançou esta semana o vice-ministro das Finanças da Rússia Alexei Moiseyev.
Segundo informações avançadas pela imprensa russa, que cita o governante, a exigência da Alrosa é que o comprador seja um parceiro estratégico, que desenvolva o activo em Angola, que pague um preço justo. E, segundo o vice-ministro das Finanças da Rússia outra condição que potencial comprador das participações da Alrosa em Catoca deve cumprir é não ter ligações à De Beers, que é uma das suas principais concorrentes.
A saída da Alrosa, para já, segundo apurou o Expansão junto de fontes ligadas ao Governo, é irreversível, tendo em conta a pressão e a aproximação de Angola aos Estados Unidos, país que desencadeou uma serie de sanções internacionais a envolver empresas russas, incluindo a Alrosa, devido à invasão da Rússia à Ucrânia. A Alrosa pretende sair de Angola, tendo em conta a posição do País, uma decisão que Moiseyev havia reconhecido como tendo “razões justas na generalidade”.
A Alrosa continua a sofrer sanções ocidentais e está com dificuldades para repatriar os seus dividendos de Angola. Continua a ser um assunto sensível, mas o vice-ministro das Finanças da Rússia disse, durante o Fórum Financeiro de Moscovo que se realizou recentemente na capital daquele país, que “haverá um anúncio assim que o acordo for assinado”, ou seja, quando a compra for acertada. “Estamos à procura de um parceiro estratégico. Precisamos de um parceiro que desenvolva o activo, pague um bom preço e não seja afiliado à De Beers. Este é o quebra-cabeça que precisa ser resolvido”, referiu Alexei Moiseyev Catoca é a quarta maior mina de diamantes do mundo em volume, produz actualmente cerca de 75% dos diamantes angolanos, ou seja, 6,5 milhões de quilates de diamantes brutos por ano.
Catoca encerrou o ano de 2023 com um volume de receitas 20,9% abaixo face a 2022, tendo registado 717,6 milhões USD, contra os 867,5 milhões registados no ano anterior. A receita do ano passado resultou da comercialização de 6,2 milhões de quilates, contra os 5,6 milhões de 2022, sendo que o preço médio alcançado foi de 114,2 USD por quilate. Em termos absolutos, em 2023, os custos operacionais aumentaram 7,8 milhões USD, face ao ano anterior, ou seja, no ano passado os custos operacionais cifraram-se nos 458,6 milhões USD, contra os 450,87 milhões de 2022.
Repatriamento de dividendos
Pelo terceiro ano consecutivo, a Alrosa não consegue transferir os dividendos obtidos com a sua participação na mina de Catoca, onde é sócia da empresa estatal ENDIAMA com 41% do capital.
Ao todo são já 322,0 milhões USD, em que 134,4 milhões USD são relativos a dividendos de 2023.
Segundo apurou o Expansão junto de fontes ligadas à multinacional russa, estes dividendos não saíram do País devido às sanções dos EUA e da União Europeia aplicadas à companhia russa de diamantes, que vê as suas operações em Angola cada vez mais limitadas, o que está a pressionar os russos a apressarem a venda da sua participação na maior empresa de diamantes de Angola.
O Expansão sabe que as restrições impostas aos activos russos podem influenciar negativamente as operações futuras da Alrosa em Angola, que neste momento se circunscrevem apenas à mina de Catoca, apesar de oferecer assistência técnica e de tratamento da exploração de diamantes da mina do Luele.
Uma fonte do Expansão junto do processo, referiu que apesar das pressões externas, os russos estão firmes na exploração de diamantes em Angola. Ainda assim, assegura que o futuro da companhia na exploração de diamantes, com as limitações impostas, está cada vez mais incerto, abrindo, para já caminho à saída do mercado angolano.
Segundo apurou o Expansão, a comissão dos dois países constituída no ano passado para discutir o repatriamento dos lucros da Alrosa em Angola, continua a trabalhar para encontrar uma via que possibilite aos russos acederem aos seus dividendos. “Não existe ainda nenhum acordo entre as partes, tudo porque Angola está a ser pressionada pelos norte-americanos e europeus para cumprir as sanções impostas. Tudo não passa de interesses geopolíticos, mas tudo está a ser feito para que os russos tenham acesso aos dividendos obtidos em Angola”, disse a fonte, adiantando que a situação preocupa os russos da Alrosa.