Agostinho Kapaia suspeito de corrupção

O empresário Agostinho Kapaia volta a ser notícia pela negativa. Depois de uma “travessia no deserto”, quando caiu em desgraça nas suas relações com o Chefe de Estado, João Lourenço, acabou por recuperar a sua simpatia, tendo mesmo recebido do Presidente da República uma garantia soberana equivalente a 350 milhões de dólares

Como diz o ditado popular, “pau que cresce torto não se endireita”, tão logo se apanhou com a “massa”, não cumpriu o objectivo da garantia soberana que lhe foi concedida com o beneplácito do Presidente da República.

Recorde-se que, na altura, foi descrito que o grupo Opaia, empresa fundada pelo empresário Agostinho Kapaia, receberia uma garantia soberana do Estado, para implementar uma fábrica de fertilizantes para a produção de ureia, no Soyo, província do Zaire.

O investimento total da fábrica estava avaliada em mais de 2,2 mil milhões de dólares. O Banco Africano de Exportação e Importação, também conhecido como Afreximbank,  disponibilizaria o financiamento de 1,76 mil milhões de dólares, enquanto que o Estado angolano cobriria 350 milhões de dólares.

O Estado justificou a garantia soberana com o facto de o projecto ser considerado “estruturante, visando apoiar o processo de diversificação da economia, criação de empregos, o aumento da produtividade agrícola e exportações”.

Estava previsto que o Afreximbank devia disponibilizar o valor em quatro anos. A garantia soberana também seria concedida de forma faseada, sendo que, logo de seguida, a ministra das Finanças, Vera Daves, tinha autorização para disponibilizar 80 milhões de dólares.

Os valores restantes a disponibilizar em outros exercícios económicos ficavam condicionados ao limite estabelecido no Orçamento Geral do Estado (OGE) do respectivo ano e a apresentação dos relatórios de execução do projecto, cujo promotor, deve pagar pela emissão da garantia soberana uma taxa correspondente a 1% do valor da garantia do financiamento.

Nos últimos dias, informações postas a circular apontam para o facto de que, depois disso, ou seja, depois de ter recebido a primeira tranche do financiamento, Agostinho Kapaia não terá levado o projecto avante, situação que está a irritar alguns sectores, incluindo o próprio Chefe de Estado.

Assim sendo, uma vez mais, Agostinho Kapaia defrauda a confiança do Presidente João Lourenço.  Anteriormente, de acordo com informações que circularam em alguns círculos empresariais angolanos, em causa esteve a sua ligação com um grupo Russo envolvido em vários escândalos internacionais.

Na altura, o empresário foi riscado de um concurso da Unitel, onde o mesmo queria, por todos meios, entrar, usando dinheiro do grupo Russo.

Uma ala da Sonangol convenceu o Presidente João Lourenço a não aceitar a sua entrada visto que o mesmo não tinha liquidez e, por questão de transparência, a sua presença em nada ajudaria na política da sua governação.

Agostinho Kapaia foi (ainda é) fortemente criticado a nível da Comunidade de Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola (CEEIA), que agrupa grandes e médias empresas angolanas activas em negócios e comércio internacional, organização que, de acordo com alguns colegas seus,  abandonou sem prestar contas a ninguém, estando mais preocupado em procurar formas de bajular o Presidente da República.

Sublinhe-se que, em 2020, Kapaia foi apontado por ligações à empresa seichelense ‘Silicona Corp’ que, ao lado do controverso banqueiro suíço Marcel Krüse, haviam sido citados pelos ‘Panamá Pappers’, o conjunto de 11,5 milhões de documentos confidenciais de autoria da sociedade de advogados panamenha ‘Mossack Fonseca’, que forneceu informações detalhadas de mais de 214 mil empresas de paraísos fiscais offshore, incluindo as identidades dos accionistas e administradores.

Marcel Krüse foi descrito como um dos principais parceiros do empresário Jean-Claude Bastos de Morais, antigo ‘testa-de-ferro’ de Zenu dos Santos, filho do falecido ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

Natural do Huambo, Agostinho Kapaia conseguiu subir nas fileiras no mundo dos negócios em Angola graças às suas conexões no MPLA e à influência do seu tio, o empresário António Mosquito.

É o presidente do Conselho de Administração do ‘Grupo Opoia’, que opera nos sectores da construção, hotelaria, tecnologias de informação e energia.

Em 2019 foi notícia na mídia internacional quando foi citado como um dos empresários mais próximos da ‘entourage’ presidencial, interessados em comprar a participação de 25% que a brasileira Oi detinha na UNITEL.

O tema não passou de uma mera intenção, pois, os esforços que o mesmo empreendeu junto da banca e de alguns fundos de investimentos para captar os mil milhões de dólares, preço das acções, redundaram em fracasso.

Neste novo ciclo governamental, com a reiterada aposta do Presidente da República em continuar com o combate à corrupção, empresários como Kapaia terão que prestar contas à justiça.

LPN

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