O chefe de Estado angolano foi eleito na sequência da vitória do partido de que é líder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), nas eleições gerais de 24 de agosto de 2022 e investido a 15 de setembro do mesmo ano, para um segundo mandato, depois do primeiro que cumpriu entre 2017 e 2022.
Para o também docente universitário, do ponto de vista social “as coisas deterioraram-se”, porque “a vida do angolano ficou mais difícil, consequência de uma governação não transparente”.
“Ou seja, hoje os produtos da cesta básica estão mais caros, o que faz com que a vida dos angolanos esteja cada vez mais precária. Muitas famílias estão a ter apenas uma refeição por dia, porque não estão a ser capazes de completar todos os produtos para que os seus filhos se possam alimentar”, frisou.
Numa análise sobre as questões económicas, Albino Pakissi frisou que os empresários se queixam de uma vida também “cada vez mais difícil”, estando alguns a ser obrigados a fechar as suas empresas e despedir pessoas.
De acordo com Albino Pakissi, o que se tem verificado é que “nem os empresários nacionais, nem os internacionais” querem investir neste “ambiente precário”, marcado também por uma “insegurança jurídica”, ou seja, um poder judicial que “se encontra um tanto quanto comprometido, como que manietado pelo poder político”.
Sobre o poder político, o analista entende que há “uma espécie de guerra aberta” que se vem assistindo nos últimos dias, com discursos, na sua perspetiva, “muito musculados, essencialmente em Luanda”, devido “a força da UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola, maior partido da oposição]”.
Segundo Albino Pakissi, a UNITA, através do seu líder, Adalberto da Costa Júnior, “que não está parado”, tem desenvolvido um périplo, que está a fazer o partido no poder perceber que o seu maior opositor político “tem estado com muita força, a apontar erros muito graves na governação, o que tem deixado o MPLA um tanto quanto nervoso”.
“Esta é a análise que faço política e temos percebido todos os dias que as posições se acirram cada vez mais, cada um afirma a sua, isso faz com que nós consigamos ver, por exemplo, comícios em Luanda, onde o primeiro secretário do MPLA, que é o Manuel Homem, usa palavras muito duras para caracterizar a UNITA”, frisou.
Um facto relevante neste primeiro ano de mandato de João Lourenço, prosseguiu Albino Pakissi, é “essa grande saída da UNITA, que é efetivamente para a destituição do Presidente da República”, baseada na Constituição, que no seu artigo 129 “diz que o Presidente da República pode efetivamente ser destituído”.
“E os motivos que a UNITA utiliza para a destituição do Presidente da República estão muito claros”, disse Albino Pakissi, elencando um deles, que é “o facto de terem morrido nesta governação do Presidente João Lourenço, nos seis anos, mais de 200 pessoas em manifestações”.
“Foram mortas as pessoas, mortas a tiro. A UNITA entende, e ainda bem, que isto constitui crime, e é crime, porque a polícia está a matar, a UNITA tem razão”, disse Pakissi, acrescentando ainda que a segunda força política em Angola entende também “que não tem havido transparência na governação” do chefe de Estado angolano.
Albino Pakissi sublinha que o Bureau Político do MPLA, na sua resposta à iniciativa da UNITA, respondeu de forma “completamente musculada”, ao invés de usar, como o seu adversário político, a Constituição nos seus argumentos.
“A grande verdade é que o Bureau Político não manda nos deputados, porque os deputados são do povo e também a grande verdade – e o MPLA sabe disso — (…) é que a UNITA poderá conseguir os deputados para isto, porque há muitos deputados do MPLA que não estão com o Presidente João Lourenço, não gostam dele, por uma razão muito simples, porque maltratou o ex-Presidente [da República] José Eduardo dos Santos, e há muitos deputados na Assembleia Nacional que o querem ver cair”, referiu.
Uma destituição, sublinhou o analista, não significa a convocação de eleições, nem dissolução do parlamento, reiterando que a iniciativa “constitui um facto muito grande”, porque “imediatamente, o Presidente da República começou a receber muitas associações, os jovens, as zungueiras [vendedoras ambulantes], para ouvir delas como é que tem que fazer”.
“O Presidente vai muito tarde, porque se ele soubesse de facto escutar, há muita coisa no país que estaria muito bem feita”, afirmou, apelando “alguma calma” para que “o acirrar de posições no discurso não vá para a prática”.