Eis a equipa titular de um campeonato que ninguém queria assistir: A Selecção dos Malfeitores, composta por quatro portugueses e três angolanos, unidos por uma táctica infalível — destruir sonhos e hipotecar futuros.
Por Malundo Kudiqueba
No ataque, Mário Soares e Almeida Santos jogavam como mestres da diplomacia do interesse próprio, driblando promessas de autodeterminação para meterem a bola no campo das elites. Prometiam liberdade, mas entregaram cadeias invisíveis que sufocaram gerações inteiras. Na defesa, Costa Gomes e Rosa Coutinho usavam estratégias militares e políticas dignas de um fora de jogo permanente, sempre a favor dos seus próprios objectivos. Enquanto isso, os inocentes eram apanhados no fogo cruzado da ambição e do abandono.
No meio-campo angolano, Agostinho Neto distribuía passes longos de idealismo, mas que frequentemente acabavam nos pés da repressão e da exclusão. Jonas Savimbi destacava-se como o ponta-de-lança dos conflitos intermináveis, um verdadeiro “hat-trick” de guerras civis. Com cada golo que marcava, enterrava mais fundo as esperanças de paz. Holden Roberto era o estratega que abria alas para os interesses estrangeiros, garantindo que o adversário — o povo angolano — nunca tivesse hipótese de vitória. O seu jogo era tão calculado que os donos do tabuleiro eram sempre outros, nunca o povo.
Resultado? Angola perdeu em todas as frentes. O estádio ficou em ruínas, os bilhetes custaram décadas de sofrimento, e os sonhos da nação ficaram arquivados em gavetas trancadas. Enquanto os espectadores choravam nas bancadas, os jogadores recolhiam os seus prémios em luxuosas cortes internacionais.
As consequências? Prolongam-se em prorrogações intermináveis, com os espectadores — milhões de angolanos — a pagarem um preço que nem eles nem os seus descendentes merecem. A herança deste jogo sujo é um ciclo de pobreza, desigualdade e desconfiança que ainda marca o presente.
Para os portugueses que ficaram para trás, a sensação era de traição absoluta. Muitas famílias foram obrigadas a fugir apenas com a roupa no corpo, enfrentando campos de concentração improvisados em Portugal, enquanto os políticos que os abandonaram tentavam maquilhar a catástrofe com discursos vazios. Os que não conseguiram escapar enfrentaram pilhagens, assassinatos e uma sensação de desamparo que ficou marcada para sempre na memória colectiva.
Folha 8