Professores e informáticos cobram até 100 mil Kz para mudar notas dos alunos

Professores e quadros informáticos de vários estabelecimentos do ensino superior em Luanda cobram verbas aos alunos para mudar e melhorar notas de disciplinas, um negócio que não é sigiloso e que pode chegar até aos 100 mil Kz por nota, constatou o Expansão em oito estabelecimentos da capital do País.

Na sequência de várias denúncias, o Expansão visitou oito estabelecimentos de ensino superior para constatar este fenómeno, que não é novo, nomeadamente o Instituto Superior Politécnico do Cazenga (ISPOCA), o Instituto Superior Técnico de Angola (ISTA), o Instituto Superior Politécnico do Zango (ISPOZANGO), o Instituto Superior Politécnico Katangoji (ISPK), o Instituto Superior Politécnico do Bita (ISPOB), o Instituto Superior de Administração e Finanças (ISAF), o Instituto Superior Politécnico Alvorecer da Juventude (ISPAJ), a Universidade Jean Piaget de Angola (UNIPIAGET), bem como duas faculdades públicas da Universidade Agostinho Neto, nomeadamente a de Letras e a de Economia.

No corredor destes estabelecimentos este nem sequer é um tema tabu, já que todos os alunos e professores abordados pelo Expansão falam abertamente sobre estas situações. “Os professores condicionam-te tanto que depois a única maneira que vês para te safares da cadeira dele é negociar”, revelou um estudante do ISTA”, afirmando que no exame especial os professores cobram mais caro. Na hora da negociação, o preço varia de acordo com a instituição, a aflição do estudante, e a necessidade do professor. Por exemplo, no ISPOBITA, no ISPOZANGO e no Kantangonji, há professores a cobrar entre 10 mil a 15 mil Kz para substituir as notas dos estudantes, segundo vários deles adiantaram ao Expansão.

Quanto melhor for o estabelecimento de ensino, maior o preço. É o caso do instituto PIAGET e das faculdades de Letras e Economia da Agostinho Neto, onde os preços vão dos 40 a 50 mil Kz por nota. Caso seja a nota de um exame especial, esse valor pode disparar até aos 100 mil Kz. Mas a troca nem sempre envolve dinheiro já que vai até a favores sexuais. “A minha licenciatura estava condicionada por causa de uma cadeira do 3.º ano e tive mesmo que ter um caso com o professor”, revelou ao Expansão uma ex-estudante do curso de Engenharia Electrotécnica e de Telecomunicações do ISPOCA. Das oito instituições contactadas, apenas três responderam a questões do Expansão: ISTA, ISPOCA e ISPAJ.

As três admitem ter conhecimento deste tipo de esquemas que envolve não só professores mas também técnicos de informática das instituições. Só uma delas, o ISTA, admite ter detectado e expulsado funcionários envolvidos nestes crimes.

Actualmente, segundo um responsável da instituição, Jonas Catumbela, apesar de se ouvir por vezes nos corredores os alunos a falar sobre o assunto, não têm chegado casos concretos de queixas relacionadas com este tipo de casos. “O ISTA não toleraria práticas deste género caso recebesse alguma queixa. Isto constitui um crime que é punível e, com base nos nossos regulamentos resulta em despedimento”, sublinhou o responsável, acrescentando que a instituição está hoje capacidade com um sistema informático que impede eventuais alterações de notas. Ainda assim, este sistema apenas impede que os informáticos pratiquem este tipo de crimes, já que estes podem ser cometidos antes da disponibilização das pautas com as notas pelos professores.

Quanto às outras duas instituições que responderam ao Expansão, apesar de admitirem ter conhecimento deste tipo de práticas, escudam-se dizendo que não receberam queixas concretas sobre o assunto. E nem as consequências que são pesadas – já que vários casos acabam por ser entregues às autoridades policiais e há sempre o efeito de perda de reputação – acabam por afastar estes funcionários destas práticas. “Em anos passados já tivemos colegas que tiveram sérios problemas por causa desta situação e foram até despedidos. Hoje é um risco muito grande fazer isto, mas ainda assim há mesmo quem se arrisque”, afirmou um professor no ISPAJ.

 Expansão
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