Moçambique: “certificar uma mentira é fraude” – advertem bispos sobre caos pós-eleitoral

“A aplicação da lei eleitoral na fase do apuramento dos votos a nível nacional por parte das autoridades competentes, por si só, não pode garantir resultados fidedignos se os dados não o são. Certificar uma mentira é fraude”, lê-se num comunicado, assinado pelo arcebispo de Nampula, Inácio Sampura, presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).

No comunicado de duas páginas contendo sete pontos, os prelados católicos afirmam que a morte de dois políticos moçambicanos no quadro dos protestos contra as irregularidades no processo eleitoral moçambicano representa “uma forma de calar a democracia”.

“Infelizmente, mais uma vez, verificaram-se fraudes grosseiras. Repetiram-se enchimentos de urnas, editais forjados e tantas outras formas de encobrir a verdade. As irregularidades e fraudes, a grosso modo impunemente praticadas, reforçam a falta de confiança nos órgãos eleitorais, nos dirigentes que abdicam da sua dignidade e desprezam a verdade e o serviço que deveria nortear aquele a quem o povo confia o seu povo. Desta forma, empurram o povo a comprovar, não só as suas desconfianças, mas também a questionar a legitimidade dos pleitos”, sublinham.

De acordo ainda com os bispos, é recorrente em Moçambique, o assassinato de políticos e activistas sociais em crise pós-eleitoral, o que fez com que o número de abstenções em 2024 subisse para mais de metade dos eleitores inscritos, facto que, entretanto, se traduz num desrespeito da vontade do povo, expressa nas urnas em cada pleito eleitoral desde a instalação do multipartidarismo e da democracia naquele país do índico.

“Mais uma vez se fez o recurso à violência e agora manchado com uma cobarde emboscada como forma de calar, se não a verdade, pelo menos a democracia”, lê-se.

Sendo apartidária, a Igreja Católica disse que não apoia candidatos e não tem partidos, por isso os bispos manifestam que não renunciam ao compromisso político e social da igreja para a construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva, justa e fraterna, em que todos devem viver em paz, com dignidade e futuro.

“Por isso, sendo voz da Igreja Católica, nós os Bispos não podemos omitir de denunciar esta grave situação que o país atravessa e a violência que gera mergulhando todos no caos”, acrescentam.

Segundo dados oficiais, o candidato da Frelimo, partido no poder, Daniel Chapo, venceu as eleições de 09 de Outubro, o que vem gerando uma série de protestos liderados por Venâncio Mondlane, do Podemos, que aparece na contagem em segundo lugar, ultrapassando a Renamo.

Correio da Kianda

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