Cidadãos angolanos queixam-se diariamente do aumento galopante dos principais produtos da cesta básica e do fraco poder de compra dos seus salários, em ambiente de inflação.
Um analista político pediu, nesta terça-feira, “sensibilidade” do Presidente angolano em assumir publicamente que o país “está em crise e que o povo está a sofrer de fome” e defendeu que João Lourenço, no seu discurso à Nação, apresente soluções efetivas.
“Quanto ao discurso de abertura do ano parlamentar, esperamos que da parte do Presidente da República haja a sensibilidade suficiente, primeiro para dizer e assumir publicamente que o país está em crise de facto, uma crise que já dura há muitos anos, mas também que o país tem fome”, disse o analista político angolano Albino Pakissi.
Soluções para o fim da fome
Em declarações à Lusa, na projeção do discurso do Presidente angolano sobre o Estado da Nação, agendado para 16 de outubro na abertura do segundo ano parlamentar da presente legislatura, Pakissi defendeu que João Lourenço deve apresentar soluções para o fim da fome.
O Presidente da República “deve, como mais alto magistrado da nação e Comandante-em-Chefe (das Forças Armadas Angolanas), apresentar efetivamente quais são as soluções para se sair dessa fome que nós estamos a sofrer”, afirmou.
“Temos ouvido muito o ministro Massano (responsável pela Coordenação Económica do executivo angolano), mas este ministro não está a apresentar soluções, para além daquelas que nós já conhecemos, de que precisamos de diversificar a economia. Como é que vamos diversificar a economia com este ambiente que temos?”, questionou.
Povo em sofrimento
No entender deste especialista, o povo angolano “nunca sofreu tanto como agora, depois da guerra civil”, e é fundamental que o estadista angolano, na sua mensagem à Nação, apresente “soluções para a fome”, reafirmou.
Pakissi, também docente universitário, recordou a recente abordagem do Presidente angolano na Assembleia Geral das Nações Unidas, “onde salientou que a fome pode provocar instabilidade social”, alertando para a possibilidade de o país também mergulhar em instabilidade.
“E não resta muito tempo para nós, então, entrarmos nesta instabilidade se o Presidente (da República) não assumir que há fome e que vai apresentar soluções para resolver isso. É verdade que estas soluções não se apresentam do dia para a noite”, frisou.
Cidadãos angolanos queixam-se diariamente do aumento galopante dos principais produtos da cesta básica e do fraco poder de compra dos seus salários, em ambiente de inflação.
O Presidente angolano, João Lourenço, discursa na próxima segunda-feira, 16 de outubro, na abertura do segundo ano parlamentar da presente legislatura (2023-2027), para apresentar o Estado da Nação nas vertentes política, económica, social, internacional e outras.
Obras no país
Albino Pakissi, conhecido comentarista angolano, augurou que o Chefe de Estado angolano, para além de falar das obras em curso no país, apresente também um relatório “verdadeiro” sobre o real estado das infraestruturas em construção.
O analista afirmou que muitos auxiliares do Presidente da República “têm feito com que João Lourenço passe vergonha, quando dizem que determinada obra está terminada, quando não está”.
“Isto tem feito passar mal o Presidente”, assinalou, recordando que a oposição tem dado cartão vermelho ao discurso sobre o Estado da Nação porque os auxiliares de João Lourenço “não apresentam relatórios verdadeiros”.
Escolas sem mesas
Criticou igualmente o número de crianças em idade escolar fora do sistema de ensino e a falta de carteiras em muitas escolas públicas do país, pedindo para que João Lourenço apresente soluções para os problemas do setor da educação.
“Entendemos que em pleno século 21, no ano 2023, não podemos continuar a ter escolas sem carteiras.
Uma coisa é termos meninos debaixo da árvore por falta de escolas, mas não podemos nas escolas que já existem ter crianças que sentam no chão”, apontou.
“Não é possível, é vergonhoso para o nosso Estado, um país que tem tudo e mais alguma coisa e tem madeira que sobre para fazer carteiras”, lamentou.
E a saúde?
Em relação ao setor da saúde, o analista disse acreditar que João Lourenço deve falar dos grandes hospitais em construção, aplaudindo a edificação de infraestruturas e pedindo que o Presidente angolano inste a classe médica a “fazer melhor o seu trabalho”.
Albino Pakissi defendeu que, na mensagem à Nação, João Lourenço aborde também a problemática das liberdades no país, considerando existirem “dificuldades” para se perceber o estado atual das liberdades em Angola.
“Agora o Carlos Alberto (jornalista e diretor do portal “A Denúncia”) está preso, mas isto não é bom, porque o trabalho do jornalista não pode ser criminalizado”, sinalizou. “Entendemos, também, que, do ponto de vista político, temos muitos ativistas fora do país porque as liberdades aqui não estão como deveriam ser. Queremos um Governo mais livre, mais democrático. É o que nós precisamos e vamos esperar pelo discurso”, rematou.