A possível aquisição do Banco Fomento Angola (BFA) por um consórcio financiado pela Gemcorp, grupo financeiro cujos executivos têm ligações passadas ao VTB Bank russo e baseado na “city” de Londres, está a causar alarme em círculos empresariais e diplomáticos de Luanda.
Outro candidato à compra de parte ou da totalidade do capital do BFA (51,8% da Sonangol/UNITEL; 48,2% do grupo espanhol La Caixa) é o grupo Carrinho, que recentemente comprou o banco BCI por USD25 milhões. O processo de venda do BFA, geralmente considerado o banco angolano com melhor gestão e balanço mais sólido, deverá estar concluído em Julho, decorrendo actualmente a análise das propostas.
Conforme apurado, o consórcio financiado pela Gemcorp foi promovido por Carlos Feijó (CF) e inclui a sociedade de capital suíço Webcor, ligada ao grupo de distribuição alimentar Angoalissar liderado por Wissam Alinesr (WAN), a quem são apontadas ligações ao BNI de Mário Palhares.
Ligações a diversos oligarcas russos, próximos do PR Vladimir Putin, foram identificadas no capital da Gemcorp e do seu fundador Atanas Bostandjiev (AB) por uma investigação do Financial Times em 2022. Ainda que a empresa não tenha sido incluída nas listas de sanções internacionais que visam empresas cujo capital inclui oligarcas russos, fontes do sector financeiro referem crescentes dificuldades da Gemcorp em financiar-se, devido a preocupações como seu “compliance”.
Em meios financeiros de Luanda existem suspeitas de que o BFA possa vir a ser usado em operações cujo propósito principal seja financiar a própria Gemcorp, no actual contexto de dificuldades de acesso aos mercados.
As mesmas fontes apontam à Gemcorp uma forte capacidade de “lobby” em Luanda, tal como aos seus parceiros CF e WAN, pelo que é admitido que a sua proposta venha a suplantar a da Carrinho, com imposição de condições de “compliance” pelo BFA.
A Gemcorp financiou o Estado angolano em diversas operações, desde a presidência de José Eduardo Dos Santos. Destacou-se como uma das maiores fontes de liquidez em 2014 e 2015, quando as necessidades financeiras do Estado começaram a agudizar-se, e enquanto o Governo resistia a um acordo de financiamento como Fundo Monetário Internacional.
A sociedade financeira de AB tem vindo a manter a sua influência no mandato de João Lourenço e em 2020 assinou um acordo coma Sonangol para a construção da refinaria de Cabinda.
Na origem da Gemcorp está uma equipa da unidade de “private equity” do VTB Bank (Rússia), liderada por AB, que cindiu do banco russo, levando investidores e clientes.
AM